sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Unificar a luta contra a homofobia, no Brasil e na Rússia, para arrancarmos nossos direitos

Juventude ÀS RUAS na linha de frente contra a homofobia
Por Virgínia Guitzel, travesti, militante do Pão e Rosas
                Nesta sexta-feira, 23, nós da ANEL, desde a Juventude ÀS RUAS, estivemos presentes no ato convocado em frente ao consulado Russo, em São Paulo, para expressar nossa solidariedade a todos LGBTs que vêm sofrendo duríssima repressão, seja diretamente do Estado com aprovações de leis extremamente reacionárias, proibindo a expressão visual, política ou afetiva entre pessoas não heterossexuais, seja com a legitimidade que grupos nazistas vêm ganhando nesse país, levando abertamente um lema de “abençoe um homossexual com urina para curá-lo”, postando vídeos de violência na internet, etc .
                Junto a 60 ativistas ali presentes, entre eles a presença da conhecida cartunista Laerte, demonstramos a importância de nos mobilizarmos contra os ataques do governo de Vladimir Putin e o avanço reacionário sobre os LGBTs em nosso país e internacionalmente. Como o caso da França, que sempre foi visto como o país mais democrático e progressista, que reuniu 100.000 pessoas nas ruas protestando contra o casamento igualitário, ou como no Irã onde homossexualidade segue como crime com pena de morte.
               Os avanços de direitos que garantem aos LGBTs mais igualdade na legislação são parte de nossa luta, cotidianamente. Nós da Juventude ÀS RUAS nos colocamos na linha de frente com nossos companheiros LGBTs para garantir questões elementares como o casamento igualitário, e o acesso à saúde pública para as travestis e transexuais e também para os homens trans, garantindo acompanhamento hormonal e cirurgias de qualidade para garantir concretamente a livre construção física do gênero e a autodeterminação dos corpos, sem risco de morte e problemas de saúde posteriores.
               Porém, a igualdade na lei não é a mesma da vida. Sabemos que outros setores também atingidos pela superexploração capitalista, colocados nos piores postos de trabalho, e que são atingidos pelos avanços da dominação burguesa (ideológica e física) já conquistaram algumas “garantias legais” que não mudaram radicalmente a realidade absurda dos abusos e da violência contra as milhares de mulheres, e tampouco superamos o racismo em nosso país (apesar de tanto se propagandear a “democracia racial”).
               Avançar na luta independente dos LGBTs contra o sistema capitalista e seus pilares!
              Ao mesmo tempo que o ato também expressou diferentes visões de como barrarmos o avanço da bancada evangélica no parlamento burguês, abriu um espaço importantíssimo para um debate necessário para o movimento LGBT que no Brasil, hoje, começa a se reorganizar. O PSOL, desde sua juventude do Juntos, deixava claro o recado: “ precisamos de mais deputados, vereadores e presidentes LGBTs”,  “esquecendo-se” que Obama enquanto um negro norte-americano, e Dilma enquanto mulher ou mesmo Jean Wyllys[1] como gay , não expressam defesa real aos setores oprimidos.  Pelo contrário, estão a serviço de iludir os setores oprimidos e não motivá-los a ir às ruas por seus direitos.

                A visão do PSOL, como produto da estratégia desse partido, se perde dentro do parlamento burguês sem conseguir ver, para além do sistema capitalista, como organizar os setores oprimidos para triunfarem de forma independente. Não conseguem nem retomar o que foi Stone Wall, como uma das maiores marcas do Movimento LGBT por expressar sua auto-organização para revidar a violência policial que cotidianamente sofriam, também não consegue hoje ver movimento moleculares, mas de extrema importância, de organização em países como Egito, que em meio ao processo revolucionário que segue em aberto e com conflitos convulsivos, as mulheres que vão às ruas protestar para garantir seu direito de Pão, mas também uma vida plena, precisam se organizar[2] de forma independente para evitar os estupros e abusos que começavam a aparecer nos protestos massivos, que chegaram a reunir até 22 milhões de pessoas (o maior protesto da história da humanidade).

                Não veem ainda como as mulheres indianas que deram uma luta exemplar na auto-organização em 2012 indo às ruas com centenas de milhares, colocando um forte movimento de mulheres, vivo na luta, por seus direitos e contra o abuso sobre seus corpos. Agora, retornam elas às ruas[3] com o escandaloso caso de estupro coletivo sofrido por uma jornalista.

                Os caminhos para uma saída independente dos governos e dos patrões, de uma luta anticapitalista, sem se adaptar à democracia dos ricos em que vivemos, precisam ser construídos dentro do movimento LGBT. E nós, a partir da Juventude ÀS RUAS, nos dispomos a fazer parte dessa construção, por um movimento LGBT classista e anticapitalista que possa golpear os nossos inimigos comuns.
               
                 A revolução é uma condição!
                Por isso, nessa sexta feira, quando paramos faixas, colamos cartazes no portão do Consulado, gritávamos “Na Rússia, não passará! O governo e os fascistas vão pagar!”, apontávamos a necessidade de construir uma grande mobilização em solidariedade internacional à Rússia, contra todos os ataques reacionários do governo e dos setores nazistas, mas também apontando as contradições em nosso país, que apesar da aprovação do casamento igualitário que é parte de uma das nossas demandas de igualdade nas leis, não garantimos o direito à adoção e seguimos com a contradição de avanços legais, enquanto os números de assassinatos de LGBTs só aumentaram, chegando a 117% durante o governo que se dizia “mais democrático”, o PT.
                Sem nenhuma confiança em Dilma que permitiu Feliciano na Comissão de Direitos Humanos, não se pronunciou sobre a Cura Gay, vetou o "kit anti-homofobia" e preferiu receber o Papa da ditadura argentina, gastando 118 milhões dos cofres públicos, enquanto mais de 1 milhão em todo o Brasil saía às ruas reivindicando educação, saúde e moradia, nós da Juventude ÁS RUAS junto as companheiros do Pão e Rosas Brasil nos colocamos na disposição, com nossas humildes forças, a construir uma alternativa revolucionária para a luta LGBT.
                A partir de Junho e das importantes vitórias que tivemos, como a revogação do aumento do transporte publico e o recuo do projeto da Cura Gay, sabemos que é nas ruas que poderemos ir por mais. Se antes de Junho, já avançávamos em nossas lutas, hoje temos  a tarefa de não mais permitir nenhum projeto contra nossos direitos, mas também de conquistá-los!
                Nesse marco, fazemos um chamado às entidades estudantis, como a ala majoritária da ANEL (PSTU), centrais sindicais antigovernistas, como CONLUTAS, para organizarem desde as escolas, universidades e lugares de trabalho uma grande mobilização de juventude e trabalhadores para expressarmos nossa solidariedade e conformarmos um movimento LGBT capaz de responder às nossas necessidades.
- POR UM MOVIMENTO LGBT CLASSISTA E ANTICAPITALISTA INTERNACIONAL, QUE RETOME STONE WALL E A ORGANIZAÇÃO DOS LGBTs AO LADO DOS TRABALHADORES E DA JUVENTUDE QUE SE REBELA NAS RUAS!
- FORA PUTIN! FORA FELICIANO! PELA SEPARAÇÃO DA IGREJA E DO ESTADO NO BRASIL E NA RÚSSIA!
- PELA PUNIÇÃO IMEDIATA DE TODOS OS TORTURADORES, ASSASSINOS E AGRESSORES DOS LGBT NA RÚSSIA E NO BRASIL! POR UMA INVESTIGAÇÃO INDEPENDENTE, DE SETORES LGBTS, MULHERES E NEGROS E FAMILIARES DAS VÍTIMAS PARA IDENTIFICAR TODOS OS AGRESSORES!
- POR EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS! POR ATENDIMENTO MÉDICO DE QUALIDADE PARA TRAVESTIS, TRANSSEXUAIS E TRANSHOMENS PARA GARANTIR A LIVRE CONSTRUÇÃO FÍSICA DE IDENTIDADE E A AUTO-DETERMINAÇÃO DOS CORPOS! POR PLENO EMPREGO COM SALÁRIO MÍNIMO DO DIESSE PARA TODOS!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Putin na contramão da existência dos LGBTs na Rússia

Por Marie C. e Virginia Guitzel

Nas últimas semanas casos de tortura, assassinatos e opressão aos homossexuais cometidos na Rússia por grupos de extrema-direita chocaram o mundo inteiro, acompanhados de uma série de ataques pelas mãos do próprio Estado aos LGBTs. Uma verdadeira barbárie capitalista, respaldada pelo Estado. O primeiro ataque do atual presidente da Rússia, Vladmir Putin foi uma lei que proíbe a circulação de propaganda que contenham o conteúdo altamente ofensivo, de que pessoas que se relacionam com pessoas de mesma identidade de gênero são tão normais quanto as heterossexuais, a chamada lei anti gay proíbe que “propaganda gay” seja veiculada para menores de idade. Agora, turistas gays ou estrangeiros que de alguma maneira demonstrem homoafetividade publicamente, ou algum tipo de apoio aos LGBTs, inclusive a bandeirinha do arco-íris, poderão ser expulsos do país, punidos com multas ou até detenções. Para Putin, a Rússia não pode permitir que relações homoafetivas aparentem ser tão naturais quando as heterossexuais, assim como para ele, as Pussy Riot[1]  devem permanecer detidas e sua liberdade de protesto tem de continuar sendo negada. Ao mesmo tempo, ele dá apoio à Snowden, antigo funcionário da inteligência dos EUA que trouxe a público o esquema de espionagem do governo americano, ficou ao lado de Kadafi na Libia e de Al Assad na Síria durante todos os processos revolucionários e a ditadura banhada de sangue que o Estado impunha a população. É esta a face de quem dirige o Estado Russo, Putin, originário da KGB, órgão de espionagem que foi deixado pelo GPU, stalinista.

A herança stalinista presente no governo Putin


O stalinismo, que regrediu nos direitos das mulheres conquistados pela Revolução Russa após a burocratização da União Soviética, perseguiu homossexuais em todos os regimes nacionais que dirigiu, até mesmo em todos os estados operários deformados (Cuba, China, etc), esta perseguição se mostra presente até hoje. 

O stalinismo (desde 1928 até a queda do muro de Berlim) perseguiu homossexuais em todos os regimes nacionais que dirigiu, em todos os estados operários deformados (Cuba, China, etc), e mesmo na URSS. Para isso fazia uso até mesmo da GPU, órgão de espionagem do stalinismo, que depois deu origem à KGB, de onde veio Putin, que hoje com uma mão dá asilo à Snowden, perseguido político dos EUA e com a outra ataca xs LGBTs. 

Desde a burocratização do Estado operário que já produzida uma forte propaganda reacionária da família, contaminando a classe operária com as ideologias burguês com qual a revolução de outubro se chocaram até a restauração do capitalismo na Rússia que significou a perda de uma importante conquista do Estado operário, ainda que burocratizado para o que lhe é imposto no restante do globo. A imposição do modelo de família burguesa para reprodução da prole, cria mais mão de obra barata que combina ataques entres as mulheres com a criminalização ao aborto (antes aprovado em 1920) garantindo um grande exército de reserva que impõem a redução dos salários médios e ataques a sexualidade não - reprodutiva a serviço de lucros exorbitantes aos capitalistas.


Os LGBTs não pagarão pela crise! Que os capitalistas paguem a crise que geraram!

Nós LGBTs não nos encaixamos nesse padrão familiar burguês que visa a reprodução como forma de perpetuar a propriedade privada. Frente a crise mundial que se abriu em 2008, de proporções comparadas a crise dos anos 30, precisamos estar atentos como setor a quem direitos podem ser retirados com mais facilidade. Que os capitalistas querem nos impor os custos da crise é inegável, pois enquanto milhares de casas são retomadas, enquanto milhares de endividamento com as compras do supermercado, enquanto milhares perdem seus postos de trabalho e dezenas de outros sofrem ataques profundos em seus direitos trabalhistas, nada se questiona sobre os lucros das grandes empresas, dos bancos e do dinheiro público utilizado no salvamento de grandes capitalistas. Vimos nessa crise um novo cenário se abrir a nível mundial, a Primavera Árabe, que explodiu em 2011 reacendeu em nosso imaginário a ideia de revolução, inclusive levando a seu fim diversas ditaduras que reprimiam direitos democráticos mínimos, como no Egito. Onde agora existe um processo revolucionário aberto, já que a democracia burguesa, comandada por setores religiosos não conseguiu responder aos anseios da população com condições dignas de vida. Putin durante esse processo não só ficou ao lado de Kadafi, na Libia como continuou a vender armas ao seu aliado ditador Al Assad que segue no sanguinário genocídio do povo sírio. 


Os setores oprimidos e a juventude são os primeiros a sentir os efeitos de uma crise. Em 2012, no Estado Espanhol, um dos países mais atingidos pela crise, já foi reduzido o direito ao aborto. No Brasil o casamento igualitário foi aprovado este ano pelo SFT, demonstrando um avanço nos direitos civis formais dos LGBTs, ainda que o direito à adoção, que igualaria o  casamento homoafetivo com o casamento heterossexual, segue indefinido. Alguns meses depois um projeto intitulado “Cura Gay” tramitou no Congresso e só foi arquivado após diversos protestos ocorrerem por todo o país, também contra o parlamentar que o encabeçava, Marco Feliciano, este é representante da bancada evangélica no Congresso e faz parte da base aliada de Dilma/PT, demonstrando o quanto este governo não pode e não vai avançar nos direitos dos LGBTs. Mesmo com o avançar de direitos formais, o Brasil ainda é o país onde mais ocorrem crimes homo fóbicos no mundo, em 2010 foram aproximadamente 338 casos. A contradição entre a conquista de direitos que incluem os LGBTs na ordem e os avanços nos ataques e assassinatos demonstram que é preciso uma política revolucionária para responder a nossa opressão e nossa sexualidade.


As repostas a esses ataques aos LGBTs se dão de diversas formas, quando Marco Feliciano saiu a defender publicamente a Cura Gay diversos artistas se colocaram tanto a favor, como Joelma da Banda Calypso, cujo público majoritariamente gay a repudiou, quanto contra, como Daniela Mercury, que se assumiu lésbica. Na Rússia não foi diferente, Isinbayeva, campeã mundial de salto com vara, repudiou outra atleta, Emma Green-Tregaro, que fez seu salto no Mundial de Atletismo, que acontece agora em Moscou com as unhas pintadas nas cores do arco íris, em forma de protesto contra a lei anti-gay. Em resposta, duas atletas da equipe de corrida 4x400m subiram ao pódio em primeiro lugar de mãos dadas e comemoraram a vitória com um beijo. 
Essas expressões de figuras públicas, como o recente caso do jogador corintiano Emerson Sheik que publicou uma foto sua dando um selinho em outro jogador para expressar, em suas palavras, que “não é preciso ser homossexual para ser contra a homofobia”. São demonstrações importantes de visibilidade que contribuem para que se questione a hipocrisia de “não sou homofobico, mas...” que inclusive se expressou com os torcedores do Corinthians que foram protestar dizendo que não eram homofobicos, entretanto, não permitiriam ações como as de Sheik, de se expressar e sentir-se livre de beijar quem quiser.
É importante, nesse sentido, que utilizemos essas formas de visibilidade para fortalecer uma luta contra o Estado e os governos que contraditoriamente com a aprovação de tantas leis, ainda não conseguem garantir a igualdade na vida entre LGBTs e heterossexuais. Isso porque para além da opressão homofobica legitimidade pelos acordos eleitorais do governo, também se expressa um caráter de classe da qual é impossível existir igualdade.
A visibilidade seja da resistência e do combate as opressões ou da própria opressão como as fotos propagandeadas de grupos neo-nazistas agredindo homossexuais com o lema de “abençoe um homossexual com urina para curá-lo” contribui para polarizar a sociedade e abre espaço para uma atuação mais contundente dos revolucionários. Nós, desde a Juventude ÁS RUAS, colocamos nesse marco a revolução como uma condição para garantir a igualdade social entre todos os indivíduos, a tomada do poder pelas mãos dos próprios trabalhadores aliados a juventude e os setores oprimidos são questões inseparáveis do combate a homofobia e ao machismo.  Nesse sentido, é preciso que recuperemos outubro. Que recuperamos os avanços mais significativos no combate a desigualdade da vida, com a revolução russa de 1917 e levantemo-nos contra Putin, a Russia Unida e demais setores  burgueses que nada tem a nos oferecer. Busquemos a saída independente que possa nos garantir que sejamos “socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”. 

[1] Pussy Riot é uma banda feminista de punk rock russo, que atuaram politicamente nas mobilizações de 2011 e 2012 contra as eleições suspeitas de fraude e contra o atual presidente Putin. Participaram de uma intervenção na Catedral de Cristo Salvador de Moscou atuando como se pedissem para Maria que não permitisse a eleição de Putin. Três membros da banda, Maria Alyokhina, Nadezhda Tolokonnikova e Ekaterina Samoutsevitch foram presas e condenadas a dois anos de prisão. As demais integrantes da banda saíram do país evitando a perseguição política que vinham sofrendo.